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TANGARÁ DA SERRA 4 DE DEZEMBRO DE 2023

TURISMO

Turismo de Saberes: conhecendo a cultura do outro como forma de lazer

O etnoturismo, vertente do turismo cultural, é famoso no mundo todo, especialmente em Tangará da Serra, município que traz a experiência de visitar e aprender sobre a cultura dos povos indígenas de Mato Grosso.

O etnoturismo, palavra que nomeia uma vertente do turismo cultural, tem grande apreço em Tangará da Serra (MT), é praticado por algumas aldeias indígenas que atrai visitantes do município e turistas de todo o estado. O turismólogo Wilson Pereira explica que o turismo cultural, atualmente, é um dos mais praticados no mundo e o etnoturismo tem como característica a vivência de experiências autênticas, o contato direto com os modos de vida e a identidade dos grupos étnicos, como, por exemplo, os povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, entre outros.

 

De acordo com a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, instituída pelo Decreto nº 6.040 de 2007, povos e comunidades tradicionais são “grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição”.

 

O professor, pesquisador e etnobiólogo, Rogério Ãnez, diz que dentro da perspectiva da antropologia, os povos tradicionais são aqueles que já estão estabelecidos numa região geográfica há muito tempo, com cultura própria e costumes, mas isso não significa que elas estejam estagnadas, já que a cultura é móvel e elástica, ela sofre influência de diversas outras, inclusive em encontros de culturas ou choques culturais, situação proporcionada pelo etnoturismo.


 

Segundo a Fundação Nacional dos Povos Indígenas, coordenação técnica local de Tangará da Serra (MT), no município existem quatro terras indígenas, Paresi, Rio Formoso, Estivadinho e Figueira, ao total são 50 aldeias e 1.486 indígenas que vivem nessas comunidades tradicionais. Mas apenas sete delas praticam o etnoturismo, segundo informações da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, são elas: Katyalarekwa, Serra Dourada, Oreke, Arara Azul, Duas Cachoeiras, Waymare e Formoso.

Conhecendo culturas locais

A 80 km da cidade, o etnoturismo nos propicia uma imersão na cultura do povo Paresi. No território indígena vivem 238 pessoas divididas em 8 aldeias, sendo uma delas a Aldeia do Formoso, referência em lazer na região. Localizada no Cerrado Mato-grossense, é conhecida pelas belezas naturais e hospitalidade. A cachoeira com 40m de queda é um dos atrativos que mais chamam a atenção de turistas, mas no local ainda existem outras diversas atividades para quem ama se aventurar em meio a natureza, como trilhas e rapel.

 

Nayeli Nizokemaeroce, guia de turismo do Formoso, diz que, pelo fato do etnoturismo proporcionar diferentes experiências em um único local, alguns visitantes chegam com a intenção de conhecer a cultura e convivência indígena e outros preferem logo aproveitar o que a natureza da região tem a oferecer.

Vantagens e desafios

Entretanto, esta atividade tem seus desafios e vantagens, Pereira pontua alguns. A falta de conhecimento ou vivência de um projeto de turismo cultural dificulta o processo, uma vez que a comunidade que vai praticar o etnoturismo precisa de capacitação e treinamento para os serviços turísticos que serão prestados. Mais que isso, a baixa capacidade financeira para a execução do projeto, influencia na questão do planejamento e as atividades que serão propiciadas aos visitantes, além da grande dependência do Poder Público para o desenvolvimento de um projeto. O principal é a dificuldade na manutenção de acordos e alinhamentos entre as famílias beneficiadas, pois existem situações nas quais alguns concordam com a entrada e visitação de pessoas de fora da comunidade tradicional e outros não.

 

Voltando os olhares às vantagens, Wilson coloca que a geração de novos empregos e renda para as famílias é algo positivo e que a preservação ambiental existe, uma vez que os povos fazem a manutenção da biodiversidade.  

INFOGRAFICO - POVOS INDÍGENAS TGA_.jpg
Mapa-Turistico-Projeto-Etnoturismo-de-Tangara-da-Serra.jpg

É realizada também a inclusão social de mulheres, jovens e idosos nas atividades, pois são pessoas que têm muito a compartilhar e ganham mais espaço na prática do turismo cultural, uma vez que, principalmente os mais jovens, busquem o conhecimento tradicional com os mais velhos para contar aos visitantes. Ao mesmo tempo, há outra realidade existente, Ãnez diz que os próprios antigos das comunidades tradicionais relatam a ele que os jovens estão saindo de suas localidades e muitas vezes não retornam, ou estão envolvidos com outras formas de saberes e não estão mais ligados com a cultura. Esta realidade demonstra crescimento e evolução dela, mas também representa a perda de uma parte importante da comunidade.

 

 

 

O fortalecimento e a demonstração da cultura local tomam força, abrindo espaços para a participação social nas tomadas de decisão. Para o professor, a pessoa que visita os territórios tradicionais, deve se atentar aos conhecimentos dos povos e, para os que se apropriarem deles, precisam tomar cuidado com a forma que os recebem. É muito simples chegar em uma localidade, compreender os saberes, sair de lá e tratar estes conhecimentos de forma não respeitosa, como ao compartilhar um conteúdo na internet e não creditar a pessoa que os transmitiu, por exemplo.

 

Isto tem um efeito de afastamento, muitas vezes essa comunidade se fecha, inclusive para pesquisadores e outras tentativas de aproximação de culturas distintas, pois alguns cometem esse equívoco, dando a impressão de que qualquer um pode fazer. Segundo Nayeli, o povo Paresi, por exemplo, tem suas crenças ligadas à natureza e desde criança são ensinados a respeitar e proteger o lugar onde vivem, como forma de agradecer o que lhes é oferecido. 

 

Sendo assim, na aldeia do Formoso a orientação é feita logo na recepção do turista, reforçando o que se deve ou não fazer durante a visita. Um costume interessante dessa comunidade tradicional é o cuidado entre a relação do corpo com a natureza, Nayeli explica que não se deve entrar em contato com a água durante o período menstrual, como forma de manter a integridade dos rios, pois estes alimentam a terra onde vivem. Esse povo acredita em uma retribuição da natureza, a mãe d’água e o pai da natureza se revoltam contra quem os agride deixando impurezas, assim nos é oferecido o que oferecemos a eles.

O fortalecimento de experiências

As comunidades tradicionais, culturais, sabem do lugar onde elas estão. São as que melhor sabem. De qualquer ponto de vista, inclusive, do turismo.

O etnoturismo também chega para fortalecer a cultura local, a troca de experiências entre visitantes e as comunidades que os recebem traz um olhar diferente sobre a cultura do outro. Wilson diz que frequentemente escuta comentários negativos e preconceituosos sobre os povos indígenas e que nem sempre refletem a sua realidade. O turista verdadeiramente disposto a viver a imersão cultural tem a oportunidade de conhecer e sair daquele espaço com uma bagagem enorme de conhecimentos milenares que podem mudar a sua forma de pensar, de não mais julgar o outro e até admirá-lo.

 

A comunidade também se beneficia do etnoturismo financeiramente, através da venda de artesanatos, de comidas típicas e com as apresentações culturais. O etnoturismo pode ser rentável como qualquer outra atividade econômica, mas a palavra chave é planejamento.

 

“É necessário um projeto consistente e sólido, com um diagnóstico que aponte todas as oportunidades, ameaças, forças e fraquezas. Após implementado, ele necessita de monitoramento constante para que os eventuais erros sejam corrigidos e os objetivos alcançados, seja ele econômico ou não”, pontua o turismólogo.

 

O cacique Justino Zomoizokae diz que na Aldeia do Formoso a rentabilidade do turismo tem ajudado nas despesas da comunidade, com a verba sendo distribuída para necessidades básicas, como alimentação, saúde e educação. O lucro financeiro precisa primeiramente realimentar o projeto e também dar sustento às famílias de forma conjunta, assim a atividade tem mais chances de continuar acontecendo. 

Morador da Aldeia do Formoso com vestes e artefatos tradicionais próximo a cachoeira.
As margens do Rio Formoso.
Artesanatos produzidos pelo povo Paresi, residentes da Aldeia do Formoso.
Bonecos de pano que representam a cultura e costumes do povo Paresi.
Aldeia do Formoso localizada a 80 km de Tangará da Serra - MT.
Cachoeira do Formoso com 40m de queda d'água.
Turistas às margens do rio Formoso.
Residentes da Aldeia do Formoso, vestindo trajes usados em rituais e apresentações culturais.
Espaço de belezas naturais localizado nas terras do povo Paresi.
Cachoeiras e grutas da Aldeia do Formoso.

Confira outras experiências do etnoturismo fora do Brasil!

Descrição do episódio:

Você viveu experiências turísticas autenticamente indígenas no Chile? Trazemos aqui uma conversa sobre essas experiências representadas por Paula Ramos e Turismo Acamarachi na região de Antofagasta e Pablo Calfuqueo da Lofpulli Turismo na região de Araucanía.

Conteúdo

Arlânio da Silva Freitas

Jadielly Pinheiro dos Santos

Julia Ribeiro Bezerra

Lescar Victor Artioli

Maria Heloisa Soares de Oliveira

Ryan Chagas da Cruz

Arte

Noé Kevelen Massaroli

Desenvolvimento

Lescar Victor Artioli

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