Se tem uma discussão que divide opiniões, pois muito tem a evoluir, é a educação superior acessível no Brasil. Da existência de cotas a ambientes livres e de mentalidades abertas, as universidades públicas que um dia foram objetivo social hoje amargam um certo descrédito. É inegável que, moralmente, essas instituições vêm sofrendo ataques que as desmoralizam na estima social. O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, chegou a associá-las a “antros de maconha e depravação”, mas esse não é o único problema que faz pensamentos como o dele ganharem cada vez mais mais força.
Nos últimos anos, o campus tangaraense da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) vem sofrendo com a evasão de alunos de diversos cursos – e, dentre os motivos, um dos principais é o custo que estudar ali envolve. Embora a grade de ofertas da instituição seja vasta e livre de mensalidades, para a maioria dos alunos que precisam, por exemplo, se locomover até o campus – que fica 8 km fora da cidade – e se alimentar, os gastos não compensam o esforço. Essa realidade vem sendo percebida: numa cidade de cerca de 100 mil habitantes, os corredores da Unemat andam vazios e os vestibulares conseguem, cada vez menos, angariar matrículas. As causas para esse aparente desânimo acadêmico, porém, não se restringem somente à desmoralização institucional ou o seu alto custo: há ainda a indiferença do Governo Estadual.
Desde o início da pandemia da Covid-19, muitos dos corredores da universidade estão interditados, com obras paradas, à espera de verbas. E embora ela seja referência em qualidade de ensino, os contras bastam para definir a escolha do acadêmico pela desistência. Esse cenário é perturbador uma vez que a Unemat é, a nível regional, um centro inclusivo de intercâmbio humano, visto que inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças, segundo a professora universitária Maria Teresa Mantoan. Seguindo esse raciocínio, as diferenças é que promovem a troca contínua de experiência que só a Unemat, enquanto instituição pública, do povo e para o povo, pode oferecer.
Partindo do que foi dito, nota-se que o assunto pede medidas. Para sanar de vez a questão da distância entre a cidade e a universidade, deslocar o campus para dentro de Tangará da Serra – visto que todas as demais universidades privadas da cidade já estão dentro dos seus limites, por exemplo – é fundamental. Além disso, outra hipótese resolutiva é a possibilidade da condução gratuita para os acadêmicos, embora essa seja uma ação mais temporária que efetiva para dar a questão por resolvida. A verdade é que, de uma forma ou de outra, a universidade pública vive tempos sombrios no imaginário já distorcido da grande população, e trabalhar pela reaproximação das duas partes é, em definitivo, a mais viável das soluções para este embate.
Julian de Sousa é acadêmico da 5ª fase de jornalismo da Unemat tangaraense.
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