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Relato de uma visita ao albergue

Foto: Marcileni Ferreira Gaudencio.

Ao adentrar as portas do albergue, fui imediatamente envolvido por uma atmosfera de quietude, permeada por olhares perdidos e histórias que clamavam por atenção. O entrevistado e outros hóspedes com quem tive a oportunidade de compartilhar momentos revelaram uma dolorosa verdade: a sensação de abandono que paira sobre aquele lugar.

O sentimento de rejeição é evidente nas palavras dessas pessoas, que, apesar de acumularem uma vasta experiência de trabalho, encontram-se presas nas garras implacáveis da marginalização. A sociedade parece ter virado as costas para esses indivíduos, como se sua existência fosse inconveniente demais para ser reconhecida. Cada narrativa que ecoou pelos corredores do albergue era um testemunho pungente da luta diária desses seres humanos, cujas vidas foram moldadas pela necessidade de sacrifício. Muitos tiveram que se separar de suas famílias, despedaçando laços que, em circunstâncias diferentes, seriam seu porto seguro. O motivo desse distanciamento é cruel e inevitavelmente associado à busca por meios para sustentar aqueles que amam. No entanto, em seu esforço para proporcionar um futuro melhor, encontraram-se, ironicamente, em um presente de isolamento e desamparo.

Foto: Marcileni Ferreira Gaudencio.

As histórias ouvidas ressoam como cânticos melancólicos de vidas carentes de afeto e compreensão. Cada rosto no albergue conta uma narrativa única de desafios superados, de sonhos despedaçados e de uma batalha diária pela dignidade. É impossível não ser tocado pelas emoções à flor da pele, refletidas nos olhos cansados dessas pessoas.

No entanto, em meio à tristeza que permeia o ambiente, há também uma força resiliente que se destaca. A solidariedade entre os residentes, os sorrisos compartilhados e os gestos de apoio revelam uma teia de conexões humanas que, mesmo em circunstâncias adversas, persevera. A visita ao albergue não é apenas um testemunho do abandono sofrido por essas pessoas, mas também um lembrete poderoso de sua resiliência e humanidade.

Ao sair do albergue, carrego não apenas as histórias compartilhadas, mas também uma responsabilidade renovada de sensibilizar a sociedade para a realidade desses indivíduos marginalizados. A esperança de que, ao compreendermos suas histórias, possamos desafiar as noções preconcebidas e contribuir para a construção de uma comunidade mais empática e inclusiva.

Foto: Marcileni Ferreira Gaudencio.
 

Heberson A. Sauberlich é acadêmico de jornalismo na Unemat tangaraense.

Crônica escrita para a disciplina de Teorias da Comunicação II após visita ao Albergue Municipal São Judas Tadeu, na Vila Nazaré, em Tangará da Serra.

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