Espiei no relógio, iam dar 19h. A professora Ana, bem na minha frente, indignada ao passo que também maravilhada, gesticulava me falando sobre aquilo. Eu ia acompanhando o seu raciocínio e compartilhando da sua mesma reflexão.
Estávamos no campus avançado do IFMT, na Vila Horizonte. Tínhamos acabado de participar de um curso de extensão da Unemat realizado nas dependências do instituto federal. O mesmo instituto que, em 2015, eu tinha experimentado como aluno de secretariado técnico da falecida SECITEC — hoje, SECITECI, com i de inovação acrescido, e de sede fixa na antiga escola Jonas Lopes, da Vila Goiânia.
Naquele tempo, o IF ser chamado de campus avançado era uma incógnita para mim. Como podia um campus ser avançado se era tão precário e exíguo? E enquanto a professora Ana Andruchak falava, eu rememorava as salas que eram poucas, sem essa modernidade brilhosa de agora, e tudo o mais já depredado pelo tempo e pelo descuido.
Andamos três passos até ela parar para ressaltar a qualidade de uma porta em alumínio fosco numa das salas. As portas do nosso novíssimo Bloco F, na Unemat, andam ficando banguelas das maçanetas... Abrindo-a e clicando no interruptor, a iluminação revelou a sala de multimídia com suas várias fileiras de muitos computadores desligados. Pelo menos, umas 60 máquinas. No alto, observamos, havia uma caixa de som que, na nossa hipótese deslumbrada, devia servir para comunicados.
Depois, andamos até o banheiro feminino e Ana me mostrou com alarde uma cesta com absorventes na bancada da pia. Organizados e disponíveis para todas que chegassem ali precisando. Olhei as paredes das cabines em mármore, os espelhos perfeitos, sem trincados, sem manchas, os vasos sanitários limpíssimos, rolos de papel higiênico em todos os suportes. Na entrada, na parede, uma plaquinha com pontinhos em relevo indicava em braille que aquele era o banheiro feminino. Outras plaquinhas dessas se repetiam nas paredes nas entradas de cada uma das salas por que passamos. Até na cantina.
Passamos ainda comentando os armários nos corredores para os alunos, as plantas bem cuidadas nos pátios, a fiação, a iluminação, os geradores de energia elétrica, a sisudez novíssima do ambiente como se, em vez de anos, tivesse meses de entregue. “Parece colégio de filme americano”, brinquei. “Mas ainda bem que está no Brasil”, a professora disse, e voltamos para a sala onde os outros do jornalismo ainda confraternizavam.
Espiei de novo o relógio e, agora, passava das 19h. Sábado mormacento. “Julian, dá para escrever uma matéria sobre isso”. Concordei, e ficamos assim moralmente boquiabertos, indignados com a comparação óbvia com a Unemat, ao passo que estonteados que uma estrutura dessas esteja disponível no Brasil, no Mato Grosso, em Tangará da Serra, e gratuitamente.
Julian de Sousa é acadêmico da 5ª fase de jornalismo na Unemat tangaraense.
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