Serra Pelada é um filme de 2013 que eu só vi em 2021. Mas antes tarde que nunca. E se tem uma coisa que me fascina na fotografia, que foi a primeira coisa que brilhou ante olhos fitos ainda sem saber exatamente o que esperar, é Sebastião Salgado (autor da foto abaixo). Não a assinatura dele, de fato; mas a referência direta ao seu trabalho naquela (quase) mesma Serra Pelada do set. Salgado esteve onipresente em cada quadro: desde a expressão dos figurantes soterrados de suor (e maquiagem) aos grandes planos gerais da pirâmide invertida.
A história é, sim, interessante, não deixa de ser legal, pero bobinha num aspecto. Veja bem: um professor comunista, idealista inveterado portando, Joaquim, se mete a ir pra Serra Pelada enricar e, para isso, deixa a esposa grávida sozinha em São Paulo. Legal. Leva a tiracolo um amigo seu, Juliano, bem mais esperto e mais homem — entenda como bem quiser — para o ambiente e provações que ele naturalmente esconde. Com isso, os roteiristas quiseram meter uma antítese velha na tela: contar histórias de opostos dá mais conflito. Mesmo que previsível.
A certa altura, eu tinha certeza que o personagem do Júlio Andrade ia andar para frente. Não andou. Começou e terminou a história sendo o bobão idealista que era o seu máximo ser. Um homem bonzinho, honesto, vencendo a lama da vida sem puxar faca para o bucho de ninguém — tá bom, conta outra... A entrada da Sophie Charlotte na pele da rapariga Teresa é que foi um refresco. Ela foi a grande estrela coadjuvante desse longa, ao lado do também ótimo Juliano Casarré e do pontual Wagner Moura que, com seus trejeitos bem sacados da manga, o amendoim e o queixo sempre em pé, mostrando a papada orgulhosa, ficava zanzando entre o suburbano e o superior. Uma maneira mais gestual de se eclodir um esperto homem de negócios daquele tempo: pouco métodos e todo práticas. Dos demais, não lembro muito. Pena.
A história é de fôlego rápido até. As cenas noturnas são lindas, coloridas, piscantes, suarentas, quase perfumadas, e embora eu lembre pouco da trilha sonora original do filme, a música popular — o forró, o brega, o sertanejo — evita de a gente se esquecer totalmente de que há música no filme. O final, bem... Imagino que quem escreveu o script nunca tenha pisado num lugar nem parecido com a Serra Pelada original na sua vida limpinha (nem fez caso de dissimular isso também). O filme todo me parece idealista demais. Quer ter uma mensagem no final. Uma moral sobre a curteza da vida versus a caçada ao dinheiro que é batida demais e ninguém mais liga. A maçada imperdoável é que tudo termina misteriosamente bem depois da avalanche de terra e balas que desaba sobre a dupla protagonista nos últimos momentos. Tem até redenção na cena final. Ah, esses roteiristas de sapatênis de São Paulo...
Julian de Sousa é acadêmico da 5ª fase de jornalismo da Unemat tangaraense.
Título original: Serra Pelada
Direção: Heitor Dhalia
Elenco: Juliano Cazarré, Julio Andrade, Wagner Moura, Sophie Charlotte
Gênero: Drama
Ano de lançamento: 2013
País: Brasil
Sinopse:
Nos anos 70, a Serra Pelada, no Brasil, tornou-se a maior mina a céu aberto do mundo. Milhares de homens sonharam com a riqueza. Dois deles – o idealista Joaquim e o ex-boxeador Juliano – foram atingidos pela febre do ouro e vão tentar a sorte na Floresta Amazônica. Mas a vida na mina muda tudo...
Onde assistir: AppleTV
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