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Terapia melancólica: as nuances de uma vida tangaraense

Aos 66 anos, Francelina não gosta de ser definida por suas doenças. A aposentada que já tinha lúpus, diabetes, pressão alta e esquizofrenia descobriu, ano passado, um câncer. Esta é sua trajetória em busca de um médico hematologista.
 

Nos anos 90, quando ainda tinha 35 anos, a dor de Francelina Isidoria Aires da Conceição tornou-se insuportável. Ela viu-se em um abismo profundo. Apressada pelo peso das doenças e pela solidão, tentou acabar com sua própria vida. Essa tentativa de suicídio foi um grito de socorro, um pedido para que alguém percebesse o seu sofrimento. Embora tenha sobrevivido, o evento a deixou marcada, intensificando sua luta contra os fantasmas internos.

Francelina descobriu câncer aos 65 anos. Foto: Roseli Isidoria. #ParaTodosVerem: Na imagem, vê-se uma mulher com aparência de mais de 60 anos, de pele morena e cabelo preso. Ela usa um vestido de tonalidade cinza estampado com florzinhas. Atrás dela, vê-se uma janela e uma geladeira branca.

Aos 66 anos, a aposentada nascida em Cáceres, Mato Grosso, desde cedo aprendeu a lidar com a dureza da vida. Moradora do bairro Tarumã, em Tangará da Serra, desde 2000, sua história é marcada por uma série de batalhas que a vida lhe impôs. Com uma educação limitada e a saúde fragilizada por uma combinação devastadora de lúpus, diabetes, pressão alta e esquizofrenia, Francelina é um símbolo da resistência em meio a um cotidiano repleto de desafios.

Hoje, Francelina enfrenta uma nova batalha: a dificuldade de encontrar um médico hematologista em Tangará da Serra. A escassez de profissionais na região a forçou a buscar consultas particulares em Cuiabá e Cáceres, muitas vezes tendo que viajar longas distâncias ou depender de atendimentos online. Cada ida ao médico é um esforço que vai além do físico é um teste de resistência emocional e financeira.

Aos olhos de quem a conhece, Francelina é uma mulher simples, com o olhar cansado. O semblante marcado pelo sofrimento revela as lutas diárias, enquanto as mãos, que já trabalharam arduamente na roça, agora tremem com o efeito dos remédios. Atualmente, mora na casa de sua filha Roseli que lhe dá amparo e a auxilia em seu debilitado estado de saúde. Com o apoio de sua filha e da família, ela possui toda a assistência necessária para levar uma vida mais saudável.

Tendo cursado até a 5ª série, Francelina luta não apenas contra as doenças, mas também contra a desinformação que muitas vezes a rodeia. O acesso limitado à saúde e à informação faz com que ela dependa de sua intuição e da rede de apoio do Sistema Único de Saúde (SUS). Em suas conversas, ela tenta transmitir à juventude a importância de cuidar da saúde e de buscar ajuda quando necessário, fazendo da sua experiência um alerta.

Apesar da tristeza que permeia sua história, Francelina é uma mulher que se recusa a ser definida apenas por suas doenças. Ela encontra força na música, nas orações e nas pequenas alegrias do cotidiano. Os risos de crianças no bairro ou o simples ato de cuidar de plantas em sua casa são momentos que trazem um respiro em meio ao caos.

Francelina Isidoria Aires da Conceição é mais do que uma sobrevivente; ela é um testemunho vivo da força humana diante da adversidade. Sua história, revela a necessidade urgente de um sistema de saúde mais acessível e sensível às demandas de pessoas como ela, que enfrentam não apenas doenças, mas a indiferença de uma sociedade que muitas vezes escolhe não enxergar as necessidades da vida humana.

 

Reportagem: Cristiano Barreto | Revisão de texto: Ana Lúcia Andruchak e Diones Krinski | Edição de texto: Beatriz Tavares

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